quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Side Story: A Prisão Divina

Os pingos da goteira no canto do teto, não o incomodava, na verdade, pouca coisa ainda o incomodava. Nem a cela suja em que se encontrava, úmida e fétida. Nem mesmo as correntes de bola de ferro presas em seus braços e pernas. Nem a coleira de adamante. A dor física parece passar despercebida a medida que as cicatrizes em suas costas foram cicatrizando. Se ele fosse uma pessoa comum, já estaria morto.

Mas por ele não ser comum, que ele seria tratado assim. Aurakas costuma cuidar bem de seus escravos e escravas. As mulheres, ainda que só possam se cobrir fora da presença dele, são tratadas melhores do que muitas rainhas em muitos reinos. Os homens então, seguem uma casta. Há os procriadores, aqueles que ajudam o Imperator a aumentar seu harém ou seu exercito, normalmente são os homens que demonstram maiores aptidões fisicas e beleza.. E há os servos, os "menos afortunados", cuidam dos afazeres do palácio.

Aurakas, durante os novos anos, adquiriu uma fixação por escravos elfos. Após a auto-aceitação de Glorienn como escrava de Tauron, nada mais natural que os elfos sejam escravos obvios. Já que "o forte deve proteção ao fraco, e fraco deve obediência ao forte", nada mais natural que os elfos se curvem. Mas ele os trata bem, muito bem... Mas existe uma exceção.

O Imperator sabe que o elfo que ele trata nas masmorras, não é um elfo comum. Ele precisa ser domado, ter seu espirito destruído para que não ouse se levantar nunca mais. Sim, ele se deixou escravizar por livre vontade. Mas quem garante que seria sempre assim? Aurakas, em sua total confiança em sua força, sabe que mesmo que ele se levantasse, não seria páreo para nenhum minotauro em Tapista. Mas, para que arriscar? Se ele pode doma-lo, por que não faze-lo?

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"Tome Valandil, coma um pouco" - Uma mão se estende por entre a grade da cela, trazendo um pedaço de pão e uma caneca enferrujada trazendo água. Ele reconhece a voz, o som que era a única coisa que conseguia afastar um pouco as trevas em seu coração. - "Obrigado, Nessallin..." - Ele ergue os braços para pegar o que lhe é dado, como se as esferas de ferro maciço não significassem nada. E evita olhar nos olhos dela, nunca olhou. Nessallin Faelivrin, outrora uma grande capitã em Lennorienn, hoje mais uma escrava, como tantos outros. Seu traje de batalha de antes, agora é substituído por uma leve túnica de seda transparente, algo que fazia com que sua beleza estonteante ficasse ainda mais evidente. Seus cabelos ruivos, seus olhos verdes claríssimos e sua expressão e corpo desenhados pela própria deusa dos elfos, fazia com que ela fosse uma das preferidas de Aurakas. Ele nunca sequer tocou nela, sendo uma das poucas que ele não fez isso. Mas a única que ele já notou. Talvez tenha sido alguma estratégia sabia, e ele já tenha notado que Valandil se identifica com ela, e por isso ele não faz nada que possa afetar a lealdade do elfo. Ou talvez ele tenha outros planos para ela. Até agora, talvez só seus generais mais próximos saibam o real motivo. - "Os outros estão cada vez mais sem esperança, Val. Eles acreditam que não só Glorienn, mas todos os outros deuses os abandonaram..." - Mesmo a voz doce de de Nessa estava triste e sem esperança. - "O que você acha, Nessa?" - Nessallin estranhou a pergunta, mais ainda por não saber como responder. Sempre foi uma devota leal de Glorienn, mas agora... "Eu não sei, Val... Tauron talvez, ele nos deu um lugar para viver, ele protegeu a deusa... Somos bem tratados aqui." - As palavras de Nessa fazem Valandil baixar ainda mais a cabeça, ele não sabia o que dizer. Como dar esperança para outros se ele não guardava nada para si mesmo? - "Os nossos irmãos respeitam você, admiram você. E saber que se aquele que libertou uma deusa está aqui. Que esperança eles tem?" - Valandil nunca soube responder a essa pergunta. Nessallin ja tinha a feito tantas vezes.  - "Bem, eu preciso ir, devo voltar aos meus afazeres" - Valandil apenas consente com a cabeça enquanto Nessa se vai.

Tem meses que Valandil não sabe o que é repousar, dormir, e mesmo acordado, ele tem pesadelos constantes com coisas que viu, com coisas vivenciou. Ele saiu refugiado de Lennorienn já destruida. Viu a transformação de Berforam com os proprios olhos, e conseguiu escapar por pouco com vida  quando se negou a fazer o mesmo. Dentro do Desafio de Tannah Toh, sentiu seu coração partir quando a historia tomou forma e ele viu o momento em que Thwor Ironfist derrotou o avatar de Glorienn na Batalha por Lennorienn. Recuperou a princesa elfica das mãos do General Hobgoblin, apenas para vê-la sendo perdida com a invasão de Tormenta a Nivenciuén. E presenciou a deusa dos elfos se entregando a Tauron. Esse ultimo ato, retirou completamente sua esperança. Retirou seu espirito...

E ele, então, começa a comer o pedaço de pão....

Nessallin Faelivrin

Valandil Elanessë

Trilha Sonora da Cena:

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